Mistureba e Gororoba - Quinquagésima Nona Edição.
Para se ter senso crítico acerca de determinado assunto, se faz necessário conhecê-lo. Eu não tenho senso crítico em pintura, escultura e música, pois desconheço tais artes; limito-me a admirar as obras que mais me encantam. Admiro A Santa Ceia, de da Vinci; admiro Pietá, de Michelângelo; admiro a Quinta Sinfonia, de Beethoven. Não ouso tecer críticas à nenhuma dessas obras.
Em se tratando de questões políticas, ou qualquer outra questão, também se necessário conhecê-la, estudando-a, durante anos antes de se desenvolver um senso crítico, daí a razão de jovens não possuírem sendo crítico algum, e resumirem as suas críticas a lugares-comuns e discursos ideologicamente motivados os quais ouviram, em sala-de-aula, de algum professor, e de cantores e de intelectuais orgânicos, militantes.
Para se ter senso crítico, percuciente capacidade de avaliação, se faz necessário possuir conhecimento prévio sobre o assunto so qual se trata. E como jovens, estimulados por professores, podem ter senso crítico, se, além de não terem uma ótima bagagem literária que lhes permita pensar, ponderar, e tampouco experiência de vida, poderiam ter senso crítico? Não podem. O senso crítico que, diz-se, professores lhes ensinam tem viés ideológico.
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Se todos os adultos descrevessem e relatassem, sem distorções propositais, sem adição de comentários, o que viu e vivenciou, nas escolas que frequentaram, há 20, 30, 40, 50 anos, e dessem a público tais registros, os brasileiros conheceríamos a verdadeira extensão da decadência da escola brasileira, da sua degradação, e ninguém mais haveria de acreditar que a sua má qualidade é resultado de uma política que se iniciou ontem.
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As salas-de-aulas, nos meus anos de estudante, eram locais em que se promoviam badernas homéricas. Os alunos não tinham interesse em estudar, e os que tinham não encontravam o estímulo para fazê-lo; e os professores não tinham interesse em ensinar, e muitos deles ignoravam a matéria que lecionavam, e os que eram dedicados ao ensino não encontravam, na escola, a estrutura apropriada, em especial os das áreas científicas (biologia, física e química), que lhes propiciasse os recursos imprescindíveis à transmissão do conhecimento.
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São sete os pecados capitais. E nenhum filho de Deus está livre deles.
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Estudei em quatro escolas (excluindo-se a do pré-primário). Nenhuma delas tinha estrutura apropriada para os estudos. Na biblioteca das escolas, meia dúzia de livros. E em todas elas o ambiente não era estimulante, não era apropriado aos estudos. Alunos não estudavam; professores não ensinavam. Eu seria injusto com alunos e professores, se generalizasse: havia os alunos estudiosos, e os professores dedicados - eram as exceções que confirmam a regra.
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Estudei, no pré-primário, em 1977, 1978 e 1980; cursei, de 1981 a 1988, o primário, de 1989 a 1991, o colegial, e, nos anos de 1992 a 1995, a faculdade. Não me recordo de como era o ambiente escolar no pré-primário e na primeira série. Minhas lembranças deste período são vagas. Recordo-me, unicamente, do nome das professoras e de alguns alunos, de cujos nomes não me lembro. Dos anos seguintes tenho muitas lembranças, e no que diz respeito aos professores, digo: apenas um deles eu o chamo de Professor, assim mesmo, em inicial maiúscula, o único que, além de dedicado, apaixonado, digo, pelo ofício de ensinar, tinha maturidade e senso de responsabilidade raros, e amor pela matéria que lecionava. Dos outros professores, só posso dizer: muitos eram dedicados ao ensino, mas despreparados, não poucos eram indiferentes aos alunos, e não eram raros os que faziam da sala-de-aula um local angustiante para si mesmos, e para os alunos, ao descarregar sobre nós seus ressentimentos, suas angústias, suas frustrações.
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Hoje em dia fala-se em doutrinação nas escolas. E muita gente pensa que esta questão é nova. Que nada. Nos longínquos anos de 1989, 1990, 1991, eu, no colegial, ouvia professor desperdiçando metade das aulas enaltecendo, descaradamente, PT e Lula. O problema é antigo, mas só agora está sendo enfrentado.
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Melanocetus johnsonii, também conhecido como diabo negro do mar, tem, na testa, uma antena em cujo corpo há bactérias bioluminescentes. Para atrair as presas, ativa a antena, e elas, mesmerizadas pela luz, se lhe aproximam, e ele, nhac, devora-as.
É o político demagogo do mar - não tão assustador como os com os quais os brasileiros convivemos, mas é de meter medo.
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Engenharia social.
Li, recentemente, um artigo tratando de um sistema de crédito social - que consiste em premiar os bons cidadãos e punir os maus cidadãos - criado pelo governo comunista chinês (bons e maus segundo o governo comunista chinês - e o que é "bom cidadão" e "mau cidadão" segundo os comunistas chineses?). Para muitos estudiosos tal sistema é um projeto experimental de controle de comportamento implementado pelo governo chinês para, num futuro não muito distante, criar um Estado de Vigilância Total. E, hoje, logo que acordei, pensei com os meus botões: o programa, criado por José Serra, Nota Fiscal Paulista, é um projeto experimental de controle de comportamento? Uma pulga, aqui atrás da minha orelha, está a me atazanar. Segundo a propaganda, é o Nota Fiscal Paulista um programa para evitar sonegação fiscal e premiar os bons cidadãs. E é uma dessas justificativas (premiar os bons cidadãos) que dá o governo chinês para a existência do seu sistema de crédito social. Ora, políticos, quando querem oprimir o povo, usam de muitos meios para atingir tal fim, e manipulá-lo induzindo-o a acreditar que está agindo em benefício próprio, ao mesmo tempo que, sem o perceber, está se prejudicando, é um deles. Parece-me que o sistema de crédito social implementado, na China, pelo Partido Comunista Chinês, e o Nota Fiscal Paulista, criado, no Brasil, pelo PSDB, têm a mesma inspiração.
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O esquerdista: O socialismo produz justiça social, acaba com a desigualdade, dá emprego pra todo mundo, elimina todas as injustiças capitalistas, faz da terra um paraíso.
O sensato: Quáquáquá (para quem não sabe, quáquáquá era, antes da invenção das redes sociais, a onomatopéia de gargalhada).
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Uma palavra tem inúmeros signifcados, e, dependendo do contexto, pode assumir um significado oposto ao que está dicionarizado. Quando se usa da ironia, por exemplo, "lindo" pode signifcar feio, e "inteligente", burro. Exemplo: Duas moças vêem um homem feio, e uma delas, sorrindo, exclama: "Lindo!"; e um homem, ao tomar conhecimento de um ato alheio de inegável burrice, diz: "Inteligente". Tais interjeições irônicas são muito comuns, e todos os que as ouvem as entendem. Do mesmo modo, um palavrão, dependendo do contexto, pode não ser uma ofensa, mas um elogio; e uma expressão grosseira, uma crítica, ou um elogio. Exemplos: num grupo de jovens ocupados em resolver um problema complexo um deles, surpreendo os outros, o resolve, e, solicitado a explicá-lo, o faz, e os outros jovens, impressionados, exclamam: "Cara, você é filho-da-puta!"; um homem assiste a um jogo de futebol, e num certo momento um jogador pisa na bola, literalmente, e cai, e o homem grita: "Cagada!", e em outro momento do jogo, outro jogador, numa cobrança de falta, faz um gol de placa, e o homem exclama: "Cagada!".
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Dá-se às palavras uso criminoso os políticos e intelectuais, deturpando-lhes, conscientes de o fazerem, o significado. Muitos, ao expressarem amor pela liberdade do povo, têm o propósito de oprimi-los; muitos, ao tecerem loas à liberdade de expressão, criam um ambiente favorável à supressão da liberdade. Usam da palavra "liberdade" num contexto que, se bem entendido, quer dizer opressão. Não é raro, também, ouvir profissionais da imprensa, em peroracões favoráveis à liberdade de imprensa, justificar a supressão da liberdade daqueles profissionais da imprensa que pensam diferente, e o fazem dando-se como legítimos paladinos da liberdade, e justificando a supressão da liberdade alheia com discursos de justiça, horror ao "discurso de ódio" daqueles que deles divergem. E o que é o tão reprovado "discurso de ódio"? Em muitos casos, verdades inconvenientes, as quais representam consideráveis ameaças aos donos de poder.
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E quando se usa da palavra "crítica", ou de "senso crítico", ou "pensamento crítico", então, nem se fala. Por exemplo: Para os socialistas têm pensamento crítico, senso crítico, quem critica idéias que se opõem ao socialismo, mas não têm, nem senso crítico, nem pensamento crítico, quem crítica o socialismo - neste caso, a crítica feita é dada como ausência de pensamento crítico, é atitude acrítica, dizem os socialistas, de gente que já sofreu lavagem cerebral capitalista. Crítica, aqui, não é crítica: é submissão à ideologia socialista.
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Muitos intelectuais, discorrendo acerca da liberdade, têm em mente realizar o seu propósito inconfessado: a opressão. Li, recentemente, de Herbert Marcuse, o livro Eros e Civilização. Em tal livro o autor, evocando Freud, Nietzsche, Hegel, e até Platão, exibe-se como um profundo amante da liberdade, uma liberdade sem freios. Ora, ao defender a liberdade como o fez, com certo requinte vernacular e uso do jargão da psiquiatria, Marcuse aponta a civilização (patriarcal), a religião e a razão como as fontes de repressão dos instintos naturais. Não é difícil identificar, nesta tese, a aversão de Marcuse à religião cristã e à civilização ocidental. E com a liberdade sem freios não se obtém a liberdade, e, consequentemente, a felicidade, supostamente desejada, e sim a necesssidade de se instalar um governo totalitário para conter as pessoas, que, sem freios, não têm limites em suas ações. Em nome da liberdade, então, está a se defender a opressão.
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O brasileiro produz riqueza (um pão). Os governantes brasileiros arrancam-lhe das mãos a riqueza (via impostos), e entregam-lhe migalhas (programas sociais), e se dizem dele benfeitores.